
Michel Deguy (França, 1930) é poeta, tradutor, professor e ensaísta.
Entre 1959 e 2020, Michel Deguy publicou mais de 60 livros, incluindo poemas, ensaios e traduções - como as de Dante Alighieri , Friedrich Hölderlin, Heinrich von Kleist, Martin Heidegger e Paul Celan. Além de ter colaborado em muitas revistas literárias, como a famosa Tel Quel, Michel Deguy é fundador e editor da Po&sie, importante publicação trimestral de poesia. Em maio deste ano, ganhou o prêmio Goncourt, um dos mais prestigiados prêmios literários franceses, pelo conjunto de sua obra.
O diálogo entre poesia e filosofia na obra de Deguy não é uma chave de leitura muito simples, tampouco reduz sua poética a um exercício de pensamento. Para o poeta, a apreensão (ou o rapto, empregando aqui uma terminologia comum a Deguy) do contemporâneo pela linguagem, na qual as relações e tensões políticas se tornam poéticas, deve fazer com que as suas lógicas e contradições sejam devidamente interrogadas. Da sua obra, selecionamos o poema “Movement de monde...”, publicado em Tombeau de Du Bellay (Gallimard, 1973) e traduzido por Marcos Siscar em A rosa das línguas (organização e tradução de Paula Glenadel e Marcos Siscar. Cosac Naify, 7Letras, 2004. p.66), a quem agradecemos por ter aceito o nosso convite e gentilmente autorizado esta publicação.
Marcos Siscar é poeta, tradutor, ensaísta e professor da Unicamp. É autor de Metade da arte (Cosac Naify / 7Letras, 2003), O roubo do silêncio (7Letras, 2006), Interior via satélite (Ateliê Editorial, 2010), Manual de flutuação para amadores (7Letras, 2015) e Isto não é um documentário (7Letras, 2019). Em 2017, seu livro De volta ao fim: o "fim da vanguardas" como questão da poesia contemporânea (7Letras, 2016) foi um dos vencedores do Prêmio Jabuti na categoria Teoria/Crítica Literária. No ano passado, Poesia e crise: ensaios sobre a "crise da poesia" como topos da modernidade (Editora da Unicamp, 2010) ganhou uma tradução em espanhol feita por Luciana di Leone e publicada pela editora argentina Corregidor. Na área de tradução, destacamos duas realizadas por Marcos Siscar: Reabertura após obras, de Michel Deguy (Editora da Unicamp, 2010 - Réouverture après travaux. Éditions Galilée, 2007) e A rosa das línguas (Cosac Naify / 7Letras, 2004), ambas juntamente com a poeta, professora, pesquisadora e tradutora Paula Glenadel.
Movimento de mundo...
Tradução de Marcos Siscar
E como vai a vida que não é eterna?
Houve a claridade Houve o enigma
E então foi feito
Houve o enigma. Houve a claridade
Ser veio a ser isto
Houve o enigma houve a claridade
E então fez-se a terra no centro da mesa
Quem senão será a força dos fracos?
Mouvement de monde…
Et comment va la vie qui n’est pas éternelle?
Il y eut la clarté Il y eut l’énigme
Puis ce fuit
Il y eut l’énigme. Il y eut la clarté
Être parut cela
Il y eut l’énigme il y eut la clarté
Puis fut la terre au centre de la table
Qui sinon ce sera la force des faibles?