
Marina Tsvetáieva (Марина Ивaновна Цветaева; Rússia, 1892-1941) foi poeta, escritora e tradutora, uma das mais importantes do séc. XX. Da geração de Boris Pasternak, Óssip Mandelstam e Anna Akhmátova, Tsvetáieva também estabeleceu contato por correspondências com o poeta Rainer Maria Rilke, além de Paternak, seu conterrâneo.
Sua poética, experimental ao olhos do cartilha soviética, foi alvo da repressão stalinista. Como uma forma de represália, Marina não conseguia trabalho nem se estabelecer por muito tempo em uma moradia. Exílios forçados por perseguição política, fugas em função da Segunda Guerra e uma vida de considerável penúria forçaram Tsvetáieva à tomada de medidas extremas. Assim como Vladimir Maiakóvski e Sierguéi Iessiênin, Marina Tsvetáieva se suicidou em 1941 – ato, hoje, contestado por outras versões.
Sua obra foi preservada graças aos esforços de sua filha Ariadna Efron. Fruto do casamento com o poeta Sergei Efron, Ariadna e Sergei chegaram a ser presos e, em 1941, Sergei foi morto por fuzilamento. Parte dessa redescoberta da obra de Marina Tsvetáieva – incluindo poemas, prosa, textos dramáticos, ensaios, correspondências e diários – só se iniciou a partir da década de 60.
No Brasil, uma das principais referências na tradução da obra de Marina Tsvetáieva é a professora e tradutora Aurora Fornoni Bernardini. São dela as traduções de Indícios flutuantes e Vivendo sob o fogo, publicadas pela Martins Fontes; O diabo, publicado pela editora Kalinka; e O poeta e o tempo, publicado pela editora Âyiné. Destacam-se também as pesquisas acadêmicas sobre diversos aspectos da obra da poeta russa – e é justamente de uma delas que apresentamos. As traduções são da tradutora e pesquisadora Verônica de Araújo Costa e integram a dissertação de mestrado intitulada Marina Tsvetáieva e a musicalidade do poema, defendida no Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ em 2013. Com traduções diretas do russo, Verônica propõe uma compreensão da poética de Marina Tsvetáieva a partir do mosaico de imagens rítmico-plásticas, fazendo do extrato musical dos poemas uma outra chave de leitura das questões sociais, políticas e existenciais presentes na obra da poeta russa. A quem se interessar, o link para acessar a dissertação de Verônica de Araújo Costa encontra-se abaixo, junto com os créditos à pesquisadora e ao seu trabalho.
Três poemas de Marina Tsvetáieva
Tradução: Verônica de Araújo Costa
Набренностьбеднуюмою
Взираешь, слов не расточая.
Ты – каменный, а я пою,
Ты – памятник, а я летаю.
Я знаю, что нежнейший май
Пред оком Вечности – ничтожен.
Но птица я – и не пеняй,
Что легкий мне закон положен.
16 мая 1920
Para minha pobre fragilidade
Olhas sem dissolver palavras.
És – pedra, mas eu canto,
És – estátua, voo levanto.
Eu sei, o mais terno maio
Diante do Eterno – nada.
Sou pássaro – não reclame,
Se em mim pousou lei mais leve.
16 de maio de 1920
Уже богов – не те уже щедроты
На берегах – не той уже реки.
В широке закатные ворота,
Венерины, летите, толубки!
Я ж, на песках похолодевшмх лежа,
В день отойду, в котором нет числа...
Как змей на старую взирает кожу –
Я молодость свою переросла.
17 oктября 1921
Os deuses – não são tão generosos
Às margens – aqueles rios são outros.
No vasto portão do ocaso,
De Vênus, voam pássaros!
E eu, deitada em areias já frias,
Afasto-me do dia, onde não há tempo...
Como serpente a olhar a pele encanecida –
Sou uma jovem além da minha época.
17 de outubro de 1921
ПИСМО
Так писем не ждут,
Так ждут – письма.
Тряпичный лоскут,
Вокруг тесма
Из клея. Внутри – словцо.
И счастье. И это всё.
Так счастья не ждут,
Так ждут – конца:
Солдатский салют
И в грудь – свинца
Три дольки. В глазах красно.
И толко. И это всё.
Не счастья – стара!
Цвет – вечер сдул!
Квадрата двора
И черных дул.
(Квадрата письма:
Чернил и чар!)
Для смертного сна
Никто не стар!
Квадратаписьма.
11 августа 1923
A CARTA
Não espere mensagens
Espere – a carta.
Trapos com nesga de
Cola. Eis a – palavrinha.
Felicidade. Isso é tudo.
Não espere a felicidade
Espere – o fim.
Salva de artilharia,
No peito – três tiros
De chumbo. Rubor nos olhos.
Nada mais. Isso é tudo.
Tristeza – remota!
Flor – floriu!
Quadrado do pátio
Bocas de fuzil.
(Quadrado de cartas:
Tintas e magia!)
Para o sono da morte
Basta estar vivo!
Quadrado de cartas.
11 de agosto de 1923
Verônica de Araújo Costa. Marina Tsvetáieva e a musicalidade do poema. Dissertação (Mestrado) – UFRJ/ Faculdade de Letras/ Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura – Rio de Janeiro: UFRJ/LETRAS, 2013. 195f. Disponível em: http://www.posciencialit.letras.ufrj.br/index.php/pt/mestrado-n/dissertacoes/dissertacoes-2013