
Adam Zagajewski (Lwow, Polônia – atualmente, Lviv, Ucrânia – 1945) é um premiado poeta, escritor, ensaísta e tradutor, sendo um dos mais importantes poetas poloneses contemporâneos.
Zagajewski se situa em um momento da poesia polonesa seguinte à geração de grandes poetas como Wisława Szymborska, Zbigniew Herbert e Czesław Miłosz. Zagajewski conseguiu não só conhecê-los como estabelecer amizade com eles. Em uma entrevista de 2018, quando perguntado sobre o que aprendeu com esses outros poetas, Zagajewski respondeu: “Aprendi, por exemplo, que a poesia não deve ser um esforço puramente estético. Se o seu país, se o seu mundo está sob ameaça, você deve discutir essas coisas nos seus poemas, não se pode esconder num paraíso de beleza. Um poeta tem de se interessar por tudo. Tem de abrir os olhos. Para a política, para a filosofia, para as ideias do seu tempo.”
Dissidente de uma poesia ideologicamente partidária, a poética de Adam Zagajewski preza pelo exercício da clareza de expressão e de sentido, uma forma de se opor à mesquinhez e à arrogância da humanidade – que acabam reverberando e sendo reproduzidas na linguagem.
Os poemas aqui apresentados possuem tradução de Marco Bruno e estão presentes na obra Sombras de sombras, uma boa reunião bilíngue da obra de Zagajewski publicada pela editora Tinta da China, em 2017. A seleção dos poemas também é de Marco Bruno, e contempla sete obras do poeta polonês: List; Oda do wielości (1982), Jechać do Lwowa (1985), Płótno (1990), Ziemia Ognista (1994), Pragnienie (1999), Anteny (2005) e Niewidzialna Ręka (2009).
Dois poemas de Adam Zagajewski
Tradução: Marco Bruno
Moi mistrzowie
Moi mistrzowie nie są nieomylni.
To nie Goethe, który nie może
zasnąć tylko wtedy, gdy w oddali
placzą wulkany, ani Horacy,
piszący w języku bogów
i ministrantów. Moi mistrzowie
pytają mnie o radę. W miękkich
płaszczach narzuconych pośpiesznie
na sny, o świcie, gdy chłodny
wiatr przesłuchuje ptaki, moi
mistrzowie mówią szeptem.
Słyszę, jak drży ich głos.
Os meus mestres
Os meus mestres não são infalíveis.
Não se trata de Goethe, que só conseguia
adormecer quando ao longe
gemiam os vulcões, nem de Horácio,
que escrevia na língua dos deuses
e dos sacerdotes. Os meus mestres
pedem-me conselhos. Vestindo macios
sobretudos deitados velozmente
por cima dos sonhos, ao romper dia, quando o vento
fresco interroga os pássaros, os meus
mestres falam por sussurros.
Consigo ouvir a sua voz trêmula.
W cudzym pięknie
Tylko w cudzym pięknie
jest pocieszenie, w cudzej
muzyce i w obcych wierszach.
Tylko u innych jest zbawienie,
choćby samotność smakowała jak
opium. Nie są pieklem inni,
jeśli ujrzeć ich rano, kiedy
czyste mają czolo, umyte przez sny.
Dlatego dłungo myślę jakiego
użyć slowa, on czy ty. Każde on
jest zdradą jakiegoś ty, lecz
za to w cuzym wierszu wiernie
czeka chłodna rozmowa.
Na beleza criada pelos outros
Só na beleza criada pelos outros
existe consolação, na música
e nos poemas dos outros.
Só os outros nos podem salvar,
mesmo que a solidão tenha o sabor
do ópio. Não são o inferno, os outros,
se os espreitarmos de manhã, quando
têm a testa limpa, lavada pelos sonhos.
Por isso cismo muito sobre a palavra
que hei de usar, “ele” ou “tu”. Cada “ele”
é uma traição a qualquer “tu”, mas,
em troca, um poema de alguém fielmente
oferece uma fresca, moderada conversa.

Adam Zagajewski. Sombras de sombras. Tradução Marco Bruno. Prefácio Adam Kirsch. Tinta da China, 2017. 200p.